sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Meu banho, meu templo

Encontrei um post antigo, que, na loucura dos dias, ficou sem publicar... Aqui vai. Embora tenha parado de amamentar, todo o resto continua valendo!

Trabalhei durante alguns anos numa revista feminina dirigida ao público mais popular. E, quando fazíamos reuniões com as leitoras, ficava espantada quando elas falavam com imenso prazer da hora do banho. Era para elas um momento fantástico. "Será que as casas são tão cheias de gente que o único instante de solidão a que elas têm direito é quando se trancam no banheiro?", me perguntava.
Não cheguei a compreender de fato esse sentimento até ter filhos. Só então descobri que fazer do banho diário um retiro é coisa de mãe, não tem nada a ver com casa muito povoada ou condição sócio-econômica.
Acontece que o banho se torna o único momento do dia em que a gente se permite estar inteiramente dedicada a si. Afinal de contas, está justificado, né? A gente não pode andar fedida por aí...
Hoje, compartilho inteiramente com elas dessa sensação: que prazer ser dona de 10, 15 minutos ininterruptos (com sorte, se um dos filhos não entrar para perguntar ou pedir algo) em que a água caindo faz nosso corpo voltar a ser palpável, voltar a ser inteiramente nosso!
Principalmente quando você está amamentando, como acontece comigo agora. Não que amamentar não seja um prazer. É. Eu adoro alimentar meu filho. Mas o corpo, componente intrínsico do eu, passa a ser compartilhado durante a amamentação. E não como quando ele estava dentro da barriga, algo mais intimista, mais difuso. Trata-se de pura concretude: ele tem fome, eu sou comida.
É nesse contexto que o banho nos traz de volta. Fechar a porta, girar a torneira e sentir as gotas deslizando pela silhueta devolve a sensação de unidade. Eu volto a ser apenas eu. E não há nada melhor para sanar a alma.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Estressadinho

Mea culpa. Mea meaxima culpa. Por mil motivos, o blog acabou ficando um tempo parado. Estou querendo retomar. Assim, estou querendo, meio reticente, porque preciso pedir licença a todo o resto da vida para abrir espaço para escrever.
O fato é que o André já passou da fase de sentar, começou a engatinhar e agora tem um – imperativo – objetivo na vida: ANDAR. Todos os seus esforços, desde que ele abre o olho até que cai, fulminado de exaustão, se concentram nesse alvo. E ele não tem minuto a perder. Trocar fralda? Pra que? Ele esperneia e se revira (o que por vezes resulta em cocô esparso para tudo o que é lado) deixando claríssimo que ele não é bebê de ficar parado. O bichinho parece atleta em treinamento pra maratona. Comer, que antes era uma descoberta, um prazer... pra quê? Seu nome agora é andar. Se ele puder investir todos os segundos de sua existência nisso, tanto melhor. Dormir? Ah, outra perda de tempo praticamente intolerável! Ele está morto de sono, mas se remexe no colo e tenta, mesmo com os olhos fechando, fazer uma última gracinha, para ver se alguém lhe faz a caridade de colocá-lo no chão. Depois de dormir algumas horas e de recuperar o fôlego, aí vamos nós de novo: reviravolta, agachamento, caçar os barrotes do berço (muitas vezes acertando neles a cabeça, mas o que é um galo diante de algo maior como se erguer, minha gente?), mais um esforço e... voilá lá está o bebê paradinho no berço, 4 da madrugada, felicíssimo e conversando, querendo começar a prática. Alguém aí sabe como explicar a um bebê que ele tem uma vida de caminhadas pela frente?

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A grande boca e o peito regulão

Por dias, tudo flui em um ritmo ao menos razoável. Mama-se a cada 3 horas, dorme-se – um tanto picado, obviamente –, mas todos felizes. Aí, por algum motivo (dia mais quente, tomei menos água, sabe Deus!), o mísero equilíbrio conseguido vai para o beleleu.
E pronto: viramos eu o peito regulão e o bebê a boca gigante. Ele só quer mamar, o que me deixa exausta e com menos leite, fazendo com que ele queira mamar mais, e eu fique mais exausta e com menos leite... E assim o círculo vicioso está instalado. E os sorrisinhos acabam. E a vida azeda.
Sinto claramente que ele me vê como um peito imenso que não quer lhe dar o que precisa e eu passo a considerá-lo um ser sugador, que me consome.
Pois bem, acabei descobrindo que, nessas horas, uma mamadeira não faz mal a ninguém. Ele consegue o leite a mais que tanto reclama, eu uma pausa, e assim o ciclo virtuoso é retomado: mais descansada tenho mais leite, ele mama o quanto quer, nos amamos novamente.
Esse negócio de bebê largar o peito porque tomou 1 mamadeira é balela, mais uma para a coleção de proibições que nos incutem.
Sabe o que? A imagem de mãe-mártir está supervalorizada. Mas acho que funciona totalmente ao contrário: em vez de sacrifício, como tendemos a encarar, resignadas, cada vez que buscamos também a satisfação (pelo menos mínima) de nossas necessidades, tudo melhora.
Sabe aquele aviso no avião: "Coloque primeiro sua máscara de oxigênio e depois ajude os outros à sua volta"? Mais ou menos por aí. É preciso respirar para ter o que oferecer. Mães sufocadas, exaustas, mártires podem ficar bonitas nos dramas, mas não alimentam nem ajudam ninguém.

domingo, 21 de junho de 2009

Manha? Mas já?

Desde que o André era muito pequenino (agora que já o consideramos grande, com seus seis meses de vida), essa dúvida percorre nossas mentes:
– Está doendo alguma coisa ou é pura manha?
Como ele teve muita cólica, o colo se tornou um lugar comum: quentinho, acolhedor, a salvação quando a dor apertava.
Mas, por muitos momentos, parecia nada acontecer e mesmo assim ele gritava por colo. E não se trata de qualquer colo: em pé, e balançando, é muito mais legal do que sentado.
Acontece que agora o touro no qual ele foi se transformando pesa mais de 8 quilos. E ficar zanzando com ele nos braços o dia inteiro é impraticável. A gente até se reveza: mãe, avó, pai, empregada... Todo dia ele ganha um tantinho de colo em pé de cada um. Mas por vezes não basta.
O que mudou é que agora temos certeza: por vezes é manha pura. Basta você fazer menção de levantar, por exemplo, que um berreiro digno de apavorar fica suspenso no ar, para no ato. E é voltar a sentar que a reclamação recomeça. Nem uma lágrima. Zero dor. Puro desejo. "Colo em pé é mais legal e eu quero". Simples assim.
Bebês têm total consciência de seus desejos e lutam por eles com armas e bagagens. Não existe essa de se conformar. Eles vão até o fim de suas forças. Pelo menos o meu...
Ontem não havia colos disponíveis e ele teve de ficar um tempo na cadeirinha. Os gritos de raiva ecoavam pela cozinha. Acho que se eu fosse minha vizinha eu chamaria o conselho tutelar pra ver se alguém estava maltratando a criança!! E tudo o que estava acontecendo era: ele sentado numa confortável cadeirinha – que balança! – enquanto mãe e empregada zanzavam daqi para lá preparando papinha e jantar. Ele urrou por cerca de meia hora, no relógio, ensurdecendo a todos. Bastou pegar no colo e nem disfarçar ele disfarçou. Enquanto era içado, já parou e sorriu satisfeito:
– "Mais uma que eu venci", dizia sua expressão...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Exaustão

23h30. Mamada, tudo certo, parece que vamos dormir. 1h, primeira acordada. Chupeta e de volta ao sono. 2h, segunda acordada. 4h, terceira acordada e só a chupeta já não adianta, um pouco de colo. 4h30, mais colo e os braços parece que não vão conseguir segurar os 7 quilos e tanto... 5hs, cólicas, contorsões, berreiro deflagrado. "Tem que fazer alguma coisa", diz o pai. "Assim não dá". Resta saber quem é a pessoa que "tem que fazer alguma coisa". Digamos que a mãe, depois da oitava acordada da noite - fora a mamada –, já no sofá da sala pra tentar não incomodar o resto da família não tem condições de fazer coisa alguma. Muito menos de aguentar frases sem sujeito ("alguém"?)...
Às 6hs eu me rendo e tento a última cartada: dou de mamar novamente, um cocô preso finalmente sai e o bebê é só alegria.
– "Abrrrrrr, arru, mamam...."
Puro sorriso vendo as luzes do amanhecer, procurando assunto como se a noite tivesse sido de sono ininterrupto. Ele é tão fofo que acaba me arrancando alguma alegria de volta e um certo alívio porque a cólica chegou ao fim, mas o sono é tanto que a cabeça dói. E sei que em 1 hora no máximo minha filha acorda. E que em duas horas eu preciso voltar a funcionar: textos esperam leitura, tenho um almoço de trabalho no qual preciso responder perguntas com alguma coerência. Eu tenho de voltar a ser uma pessoa, embora me sinta um trapo. Minha fantasia é mergulhar na escuridão do quarto e ali ficar, imóvel, por uns 2 dias. Licenças-maternidade deveriam durar até que o filho engatasse uma noite inteira de sono...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Para mim, "com penso", por favor

Uma conhecida contou que, quando conversava para contratar uma empregada e acabou de explicar quais eram os afazeres da casa, a moça perguntou:
– Mas Dona, aqui é "com penso" ou "sem penso"? Porque o preço é diferente...

Diante da cara de intriga da patroa, a moça explicou:

– Se a senhora é quem vai me dizer o que tem de cozinhar, como passar, onde limpar e tal, é mais barato. Agora, se eu é que tenho de pensar no que precisa fazer, aí é "com penso". Fica mais caro.

Além de amar essa história de "com penso" ou "sem penso", seja ela verdade ou lenda, a anedota me ajudou tremendamente a entender – e a explicar – ao meu marido que raios eu pretendia com relação à divisão das tarefas da casa e à criação dos filhos.
Eu descobri que queria – mais do que queria, precisava desesperadamente! – de um marido "com penso" depois que nossa primeira filha nasceu. Que dirá agora com dois!!
E não é que o Ricardo não ajudasse. Ele dizia, por exemplo:

– "Faz a lista do supermercado que eu vou e compro". Ou: "se você está se sentindo sobrecarregada, me diz o que quer que eu faça, que eu faço".

No início, não entendia porque essa operação não fechava para mim. Acontece que quando eu me dava conta pedia, mas continuava me sentindo sobrecarregada, levando o peso de tocar uma casa, o meu trabalho e a nossa filha. E o que pesava não eram necessariamente as tarefas (fazer a lista, escovar os dentes dela, botar dinheiro em casa), mas sim a responsabilidade, o planejamento para que todas essas coisas acontecessem. Alguém aí já ouviu uma mulher dizer:

– "Eu ajudo o meu marido na criação dos nossos filhos?"

Pois um marido que "ajuda" é a coisa mais comum. E é até louvável! Mas, vocês me desculpem, "ajudar" é "sem penso". Não é assumir a responsabilidade, perceber o que precisa ser feito, assumir a tarefa a seguir. Eu descobri que fazer a lista do supermercado ou saber avaliar o que é necessário e pedir ajuda significava que eu continuava a fazer metade da tarefa: todo o "penso" era por minha conta! O outro ia apenas executar. A moça lá tinha toda a razão: desse jeito é bem mais fácil!!

É claro que ter um marido "com penso" implica em abrir mão de que as coisas sejam feitas exatamente do seu jeito. E isso nem sempre é fácil para nós, mulheres. Você quer dividir tarefas, quer que seu marido troque fraldas, vista, dê banho ou distraia as crianças? Tudo bem. Mas ele fará isso do jeito dele. E não dá para ir lá e ficar fiscalizando, né? Ou você vai continuar sem largar a tarefa (além de ganhar oficialmente a carteirinha de insuportável).

Se a roupinha ficou uma parte de cima listrada com uma de baixo de bolinhas ou se ele não esfregou atrás da orelha como você fazia, é hora de tomar uma decisão: ou você ganha um tempo para você mesma enquanto seu marido cuida de certas coisas e aceita que ele é outra pessoa e executará as tarefas de outra maneira ou continua carregando o mundo nas costas e fazendo tudo, tão per-fei-ta-men-te quanto só você mesma sabe fazer.

Em casa, funcionou lindamente o modelo "com penso". E cada vez que eu me pego na tentação de querer arrumar alguma coisinha que já foi realizada PARO TUDO. E então respiro, me contenho a tempo, e repito para mim mesma:

– Dona, afinal, a senhora quer "com penso" ou "sem penso"?

Escolher implica sempre em abrir mão de algo. E eu me sinto bem melhor abrindo mão da minha pseudo perfeição em prol da responsabilidade compartilhada. Pra mim, "com penso", compensa mil vezes mais!! Para você, o que serve?

sábado, 25 de abril de 2009

Vai com calma, filho

O André vai fazer 4 meses. Emergimos daquele limbo sonolento dos recém-nascidos, de cólicas, olhares perdidos, desentendimento.
Ele virou um bebê: portentosas bochechas, olhar curioso e atento, sorrisos... Enfim comunicação! Temos 7,370 quilos, 65 centímetros, 2 dentes embaixo, gargalhadas e rolamentos para um lado e outro, todos os dias.
E eu nem sei dizer quando foi que tudo se transformou! Que dia ele sorriu mesmo? Quando rolou pela primeira vez? Parece que a gente pisca e eles andam 5 casas!